top of page
Foto do escritorCarla Gullo

A escola pode ensinar a brincar? II


Esta é uma pergunta que parece ter uma resposta óbvia, afinal de contas, já existem muitos professores que adotam abordagens pedagógicas que usam a brincadeira para ensinar determinados conteúdos aos alunos. Mas, vamos então, pensar a mesma coisa de outro jeito: que sentido a brincadeira tem para a sala de aula? Mais especificamente, para a aula de música? Qual é o objetivo de tudo isso, não é mesmo?!

Acho que ainda tem um problema ainda maior: os professores são adultos! Eles, de fato, sabem brincar? Eu aprendo muito com meus alunos, aliás, eles são grandes professores brincantes. Imagina ensiná-los a fazer algo que eles desenvolvem com tanta naturalidade? Elas criam histórias, dão nomes para brinquedos e objetos, jogam, dançam, se divertem com muito pouco, porque a brincadeira já faz parte do modo de ser criança.

E o adulto? Ah, a vida dá tantas obrigações e deveres sociais, profissionais e pessoais, que é difícil pensar que há espaço para algo tão divertido e prazeroso como a brincadeira que se fazia quando era criança. Há tanta tristeza e conflito no mundo, além das nossas próprias preocupações diárias, que o sentido da vida se torna nebuloso. E o pior, as crianças estão sempre antenadas, entendem o que está acontecendo e sofrem também...

Sendo a escola o local no qual somos preparados intelectualmente para a vida adulta e para o mundo do trabalho, talvez seja nela e na família que possamos aprender inúmeras coisas, sermos apresentados a diversas formas do conhecimento...brincando! Mas por quê? Deve haver inúmeras respostas diferentes, eu acho que uma delas é que brincar é o modo pelo qual podemos preservar aquele encantamento do mundo que é próprio da criança. Desta forma, ela aprende fazer muitas coisas diferentes, sem deixar de ser ela mesma! Aprende a conviver em grupo, começa a reconhecer e aceitar as diferenças, a ganhar e a perder, a respeitar e a compreender o outro, sempre em sua própria individualidade.

E o mais importante, talvez, é mostrar que elas podem continuar brincando de outras maneiras quando crescerem! E a vida é difícil sim, mas pode ser mais leve. Tocar um instrumento musical, fazer um esporte, escrever! Gostar do que se faz, tudo isso pode ser uma espécie de brincadeira de gente grande, não é?

Logo, o adulto responsável pela educação de uma criança precisa reaprender a brincar! E o professor de música tem uma vantagem incrível, porque trabalha o tempo todo com sensações, a matéria-prima das nossas experiências estéticas! Assim, brincadeiras musicais significam uma volta à base das habilidades naturais da criança de manipular, reorganizar, descobrir, mas principalmente, sentir o mundo, sentir o belo, o feio, o sabor...

A educação musical, para mim, tem o papel de ressignificar a vida da criança e do adulto pela experiência musical. Chega de abstração, vamos pôr em prática: você já fez alguma coisa legal hoje?! Divertiu-se lendo este texto ou um livro, tocou um instrumento musical, contou uma piada, fez uma criança rir, dançou, cantou...? Compartilhe suas ideias, vou adorar lê-las!

Até breve!

Livros que inspiraram o texto: Swanwick, Keith. Música, mente e educação. Ed. Autêntica. São Paulo, 2014.

Goodkin, Doug. Play, sing and dance. Ed. Schott - eamc, 2013.


40 visualizações0 comentário
bottom of page